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Foto do escritorGustavo Garcia de Oliveira

Estresse no Trabalho


Esse ano de fato tem sido atípico em muitos aspectos, que todos temos acompanhado diariamente. Dentro destas muitas facetas uma que tem vindo diretamente ao meu encontro tem sido a questão profissional. Muitos dos meus pacientes hoje encontram-se com suas principais agruras relacionadas ao trabalho. É interessante que dentro deste aspecto, as mais diversas casuísticas têm se demonstrado fatores importantes na determinação de alteração na funcionalidade. Vejo problemas desde o aspecto cobranças e demandas, até as relações interpessoais e as dificuldades inerentes ao home-office. Este último aliás que merece um tópico especial posteriormente pois tem sido uma situação absolutamente estonteante neste ano anormal.

Quando pensamos no que é a vida, o primeiro e natural raciocínio que me vem, diz respeito ao tempo; nós somente somos, ou vivemos aquilo que está contido em um período do espaço, e seja aquilo que já vivenciamos ou seja aquilo que irá nos ocorrer, isso está diretamente ligado com o tempo que estamos alocados, e na energia gasta por nossa memória operacional para nos localizar em um determinado momento. Dentro dessa caracterização o trabalho toma na grande maioria das pessoas obrigatoriamente 40 horas mínimas na semana, com algumas horas adicionais, entre pensamentos e planejamentos relacionados ao trabalho fora do ambiente, isso considerando pessoas saudáveis que não estão de alguma forma sofrendo no trabalho. Colocaria que o trabalho nos vem a mente ao menos 50 horas por semana. Se considerarmos um indivíduo médio que dorme 7 horas por dia, diríamos que o mesmo dorme 49 horas por semana, um empate técnico com o 50 visto anteriormente. Uma semana no total possui 168 horas, então fazendo uma matemática simples, tirando as horas de sono e de trabalho restam 68 horas, se pensar em 2 horas diárias de deslocamento, restaria 58 horas por semana para demais atividades. Pois bem, não preciso ser um especialista para visualizar que o trabalho divide com o descanso e as demais obrigações e lazer, uma proporcionalidade, ou seja, o mesmo tempo que você passa fazendo qualquer coisa, você divide com suas atribuições.

Para a nossa mente trabalhar em funcionalidade, precisamos estar satisfeitos com o que estamos fazendo e vivenciando. Veja, se de alguma forma alguém está realizando algo que não o deixa satisfeito, não significa que aquela pessoa estará infeliz, contudo ela tem que estar vendo a atividade como necessária com o enfoque talvez em algum outro mérito que aquela experiência traz. Por outro lado, se você está insatisfeito com o que faz, ou com a situação que está vivendo, ou com o local que se encontra, e não vê propósito em estar ali, ou na balança o lado negativo está mais forte, a busca por mudança será natural. O “x” da questão do que trago hoje aqui, é justamente o limbo entre essas condições.

Quando o local que você passa 1/3 dos seus dias de alguma forma te incomoda, e você gostaria de poder mudar, mas se vê obrigado a permanecer por n motivos, inicia dentro da cabeça uma batalha homérica entre uma vida ideal e uma vida real, e isso tem machucado muitas pessoas. Essa alteração na forma de encarar o trabalho, gera na grande maioria dos casos tristeza durante o expediente, ansiedade para que o mesmo acabe, e quando encerra o período, inicia-se um comportamento ansioso em relação ao conhecimento de que em algum tempo terá que novamente voltar para o ambiente que considera negativo, gerando tristeza fora também do ambiente de trabalho, e um estado constantemente ansioso.

É importante também se fazer a ressalva, que problemas de outras ordens na vida pessoal, que de alguma forma alteram o humor, também podem impactar no desempenho no trabalho, que pode trazer problemas dentro da realização, levando a uma consequente insatisfação, e dificuldades como citadas antes.

Bom, dado esse plano de fundo, tento trazer algumas coisas que de alguma forma possam servir de reflexão ou auxílio para pessoas que se encontram perdidas, desmotivadas ou deprimidas hoje quando o assunto é a atividade laboral.

Quando de alguma forma nosso humor encontra-se alterado, principalmente com algum sinal deprimido, atividades que anteriormente seriam normais se tornam muito mais cansativas; cobranças que em geral seriam naturais se tornam aumentadas; forma de falar que podem ser inerentes a personalidade de alguém podem se tornar agressivas ou de alta exigência; local de trabalho que seria agradável pode se tornar maçante; conversa de corredor que seria corporativista, torna-se perseguição ou tendenciosa; uma função que poderia ser plenamente desempenhada se torna fora das suas habilidades. Vejam, todas essas situações evidentemente ocorrem independentemente de como encontra-se a psique da pessoa, mas quando o humor se encontra instável, tudo se sublima e passa a ser mais complicado.

A grande importância de se entender bem exatamente o que está acontecendo, é justamente para que os mesmos problemas não se repitam e interfiram novamente na vida. Por exemplo o ambiente de trabalho pode estar nocivo em algum dos aspectos apresentados, contudo, dizer que a mudança de trabalho vai sanar todas as questões não é totalmente verdade. Conheço pessoas que mudaram de trabalho e em um primeiro momento, cuspiram marimbondos em relação a última empresa, relatando que agora estavam no melhor emprego do mundo, e após um curto período de 6 meses perceberam outros problemas (ou os mesmos) e novamente se encontraram insatisfeitos. Então, estaria eu dizendo que não tem jeito, é engolir onde estar e acabou? Também não, contudo a avaliação adequada e correta do que está sendo disfuncional precisa ser feita, e muitas vezes com auxílio profissional da psicologia e psiquiatria, para que arestas soltas possam ser preenchidas.

Claro que também não posso deixar de comentar que um dos problemas que têm levado os empregos a se tornarem cada vez mais vilões, são questões da sociedade contemporânea que acabam transitando em todas as esferas e sem este adequado entendimento, fica prejudicada a psico-educação em relação ao tema.

A “ditadura da felicidade” tem sido algo que de certa forma tem impactado negativamente o trabalho como um todo. Se perguntar para qualquer indivíduo o trajeto rumo ao “trabalho perfeito”, ele certamente vai relatar períodos em que não fez exatamente o que gostava. Além disso, o caminho do sucesso pode até ter uma fórmula, mas o momento exato que ele irá ocorrer é impreciso de pessoa para pessoa e de carreira para carreira, logo, não tem como se obter de uma forma certeira, quando exatamente o trabalho será da forma que você imagina. Associado a isso, a maior globalização da informação com seu caráter instantâneo, faz com que de uma forma geral todas as pessoas tenham acesso a diversas histórias de pessoas que ganharam bastante dinheiro, em pouco tempo fazendo exatamente o que gostam. Claro que essas histórias existem, contudo algumas coisas são importantes: nem todos os detalhes são conhecidos em muitos casos; a trajetória pode ser muito particular de cada pessoa, e por fim, essas histórias são exceções e não regra para a maioria esmagadora da humanidade. Também pelo acesso as informações, se não aqueles que têm seu sucesso medido por dinheiro, mas conseguem também encontrar conhecidos que estão trabalhando exatamente com o que gostam e estão muito felizes, mas novamente, aquilo que é digital nem sempre traz toda a verdade, e quando traz, as razões e métodos que levaram cada pessoa a um determinado lugar, tem uma fórmula muito intrínseca para ser levada como um exemplo 100% imitável ou reproduzível. Então voltando ao ponto em relação a “ditadura da felicidade”, em uma sociedade onde tudo tem que ser legal, e se frustrar sempre está errado, muitos querem resultados rápidos, ou que todo o trabalho seja exatamente como a pessoa gostaria de desempenhar. A realidade dos fatos é que não é a pessoa que define como o trabalho deve ser feito, e sim a demanda necessária que deve moldar a pessoa. Ficou confuso? Eu explico.

Um determinado trabalho vai necessitar de alguém com uma determinada habilidade e conhecimento, e consequentemente esse indivíduo terá a qualidade para o melhor desempenho. As características individuais de personalidade e temperamento, são igualmente importantes dependendo da função a se executar, fazendo dessa forma que o trabalho possa inclusive ter maior nível, e desta maneira colocando a pessoa até em melhor status dentro da carreira.

Por exemplo, uma pessoa que irá ser gerente de uma agência de banco, necessita ter boa conexão com seus clientes, devendo possuir uma habilidade social que cative o mesmo, ao mesmo tempo tendo uma boa educação para não ser desrespeitoso com nenhum cliente, e um conhecimento de mundo global, para entender as diferentes realidades. Ao mesmo tempo uma capacidade de memória importante para conhecer os produtos do banco, e saber ser firme para cobrar sua equipe, mas com um entendimento humano para saber motivar e melhorar o desempenho daqueles que estiverem abaixo do esperado em termos de produção. Dentro dessas aptidões, estaríamos falando de alguém que necessita ser extrovertido, organizado, com espírito de liderança e atualizado, aparentemente pronto para esse cargo; contudo também deve-se salientar, que para esta pessoa chegar no posto de gerência, ela com essas mesmas habilidades teve que estar em cargos abaixo na hierarquia do banco, e se um dia o mesmo ascender dentro da carreira, terá que desenvolver novas habilidades e ter paciência com deficiências que encontrar pelo caminho. E no meio dessa jornada muitas dificuldades ocorrerão, muita cobrança, e diversas coisas não sairão como o planejado, e em muitos dias o sentimento não será de felicidade, mas isso tudo faz parte da vida e do trabalho, ainda que a remuneração ou satisfação pessoal possa ser boa.

Dessa forma o que destaco é, não se pode ser feliz o tempo todo na vida como um todo, e quando se fala do trabalho a premissa segue sendo a mesma, então seja a insatisfação por um cargo baixo, ou o incômodo por muitas responsabilidades, dentro do trabalho essas dificuldades ocorrerão, e saber localizar bem aonde está o componente negativo, é determinante para saber se uma troca de emprego é a solução milagrosa para os infortúnios, ou simplesmente uma alternância de problemas.

Então o que pretendo com esse texto, é conversar com as muitas pessoas que hoje sofrem dentro do seu emprego, e de alguma forma auxiliar na construção de um pensamento que contribua para se localizar em relação as pretensões na vida profissional. Existem caminhos. Para algumas pessoas uma transição de área seria saudável, mas para que isso ocorra pode ser necessário ficar mais tempo no emprego atual, para se estruturar financeiramente ou emocionalmente para buscar alguma mudança. Para outras a ideia é perceber que dentro do grau de esforço e energia disposto a gastar, se manter no trabalho atual é o mais confortável, e para que isso não se torne um peso maior que o necessário, é importante que se desenvolva novas técnicas e pensamento para encarar o trabalho, para que o mesmo não acabe por esmorecer outros aspectos da vida também. Para outras pessoas, o momento de mudar é agora, e para isso ocorrer será necessário um passo de coragem, que a princípio pode parecer assustador, mas posteriormente será um total alívio.

Seja qual for a sua situação, toda mudança pode causar alguma perda, e consequentemente o “tapete vermelho” pode não estar estendido, e a espera do momento perfeito pode nunca ocorrer igualmente. O cenário ideal que todos insatisfeitos com trabalho imaginam, é alguém oferecendo o emprego perfeito amanhã, e você fazendo uma transição direta sem nenhuma dificuldade, mas isso é tão improvável quanto inocente. Logo, se a ideia for de mudança, a paciência também é uma virtude, em conjunto com o planejamento; mas bato na tecla que essas duas coisas só são possíveis, quando se tem o entendimento do que você está sentindo, de quem você é, e aonde você quer chegar. Portanto, se estas perguntas ainda são mistério para você, se esses questionamentos parecem complicados, a procura de um profissional certamente vai te ajudar bastante, a colocar a mente nos trilhos, e de uma forma mais saudável encontrar o melhor caminho, para estar satisfeito com o que se desempenha, seja este trabalho como o destino final, ou entendimento do mesmo fazer parte apenas de uma etapa, de um futuro cada vez mais satisfatório se desenhando para os dias subsequentes.

A qualidade da saúde mental interfere no trabalho, bem como a execução do trabalho interfere na saúde mental.

Espero ter ajudado, e encontro-me a disposição de quem desejar!

G.H.G.O

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